sábado, 2 de março de 2013

Edição 143 - Passeio Público

Passeio Público
Passeie pelo Passeio
Caminhe pelo Passeio
Use o Passeio



O Parque da magia
Criado como “antídoto” contra cólera e malária, Passeio Público também foi local de inacreditáveis acontecimentos para a mirrada população curitibana do século 19


Jovens caminham pelo Passeio Público, no início do século 20

O primeiro parque público de Curitiba – e do Paraná – não foi projetado para o lazer, mas sim pela necessidade de uma ação higienista, alertada pelo Dr. Muricy (José Cândido da Silva) em 1858. É que as águas paradas do Rio Belém, na curva do Boulevard 2 (atual Av. João Gualberto), causavam um cheiro daqueles em dias de calor e acumulavam resíduos a ponto de ocasionar uma possível epidemia de cólera, malária ou varíola. O terreno pantanoso virou o que hoje é o Passeio Público da capital paranaense.


Fotógrafo Helmuth Wagner fotografava muito o Passeio quando ele foi inaugurado. Wagner adorava registrar o contraste das sombras e das luzes no passeio. Acervo familiar: Helmuth Wagner

O local foi comprado pelo município, aterrado e inaugurado em 2 de maio de 1886. Foi nessa área alagadiça que diversas situações inéditas ocorreram na cidade – a população foi quase à loucura ao ver pela primeira vez a eletricidade, a partir de um foco elétrico instalado ali, um carrossel e, inacreditável: uma mulher voando em um balão.
Era uma Curitiba provinciana, governada por Alfredo D’Escragnolle Taunay: em 1886 haviam 15 mil habitantes e não mais do que 1.283 edificações na cidade. No livro Passeio Público: Primeiro Parque Público de Curitiba, da historiadora Cassiana Lícia de Lacerda, é possível ter uma ideia da sociedade da época. “A comida tinha preços ínfimos, era barata, farta e plácida, mas a sociedade desconhecia quase que completamente o que era luxo.” É de se imaginar o que aconteceu com essa população que, com seus trajes elegantes, frequentava o primeiro parque da cidade.



Momento de descontração no Passeio Público. Acervo familiar: Helmuth Wagner
Histórias
A chegada do carrossel, em 1888, foi um evento. A população o chamava de “máquina dos cavalinhos”. O carrossel, explica a historiadora, foi quase que uma revolução das máquinas, numa Curitiba em que o lazer se resumia a um sarau por mês, oferecido em clubes.
Uma multidão também lotou o Passeio Público no dia em que, pela primeira vez uma mulher, Maria Aída, subiu com um balão pelos céus de Curitiba – um voo frustrado, já que o balão acabou enroscado no lanternin da catedral. Bem neste dia, José Godoy, bufando de calor, resolveu se jogar em um dos lagos do parque para se refrescar, mas foi barrado pela polícia, quando já estava em seus trajes íntimos.
Portão do Passeio: entrada para pedestres. Acervo familiar: Helmuth Wagner
O Passeio Público também teve ares intelectuais quando em 1911, no fervor do helenismo, Curitiba coroou Emiliano Perneta como o príncipe dos poetas paranaenses. Ele se negou a ir até uma das ilhas de barco – não achava seguro. A ilha, chamada de Ilusão, recebe este nome em referência a uma das obras de Perneta. Lá, jaz o seu busto.
Quando o Rio Belém foi canalizado e se tornou navegável dentro do Passeio Público, primeiro surgiram os barcos e, depois, os pedalinhos. Acervo familiar: Helmuth Wagner
Nesse parque da magia, cogitou-se transformar os canais em locais de prática de natação, sem sucesso. Enquanto isso, nas ruas do Passeio, as pessoas faziam teste de baliza para tentar tirar a licença para dirigir. Havia muito movimento de pedestres, que literalmente ocupavam o parque, inclusive para ver os concertos a partir do coreto que hoje virou aquário. “É preciso dar novos fins ao Passeio. Não dá para aceitar que a história dele permaneça assim, desconhecida”, lamenta Cassiana.
O Passeio tem árvores históricas, como um carvalho que foi plantado na época de sua inauguração (1886) e que existe até hoje. Acervo familiar: Helmuth Wagner
O famoso portão e outras intervenções
É verdade. O Passeio Público tem um portão muito semelhante ao do Cemitério de Cães de Paris (Cemitière des Chiens de Asnière-Sur-Seine), e há uma explicação lógica para isso. O arquiteto Joseph Antoine Bouvard, contratado para ajudar nas reformas do Passeio, em 1919, trabalhou em obras do departamento de Sena (França), por isso é atribuído a ele também o projeto do portal do Cemitério de Cães. Conforme explica a historiadora Cassiana Lacerda, é provável que ele tenha retomado seus projetos e feito algo parecido por aqui.
A canalização do Rio Belém ajudou a evitar o surto de cólera, tão temido pelos higienistas. Acervo familiar: Helmuth Wagner
O europeu trouxe para os curitibanos outras novidades, como áreas de lazer no parque com concepção artística e paisagística de caráter haussmmaniano. Georges-Eugène Haussmann foi prefeito de Paris e considerado um grande remodelador da cidade que governou. “Ele criava paisagens naturais por meio de intervenções artificiais”, explica Cassiana. No Passeio, é possível ver esse tipo de arte na cerca que contorna o parque (feita de cimento, mas que imita troncos de árvores), nas grutas (uma delas feita semelhante a estalactites) e no antigo coreto, que imitava rochedos.
Os cisnes foram um dos primeiros animais a serem levados para o parque. Acervo familiar: Helmuth Wagner
O Passeio Público tem ainda outras peculiaridades. O primeiro parque infantil que a capital recebeu foi ali. O projeto era do arquiteto Frederico Kirchgässner – que projetou a casa modernista. O viveiro dos macacos, construído em 1932, tinha até lambrequins. E o Restaurante do Estudante, implantado durante o primeiro governo de Moisés Lupion, em 1950, após seis anos foi consumido por um incêndio. Foi nessa época que o novo restaurante Recreio do Garoto foi edificado e os barcos perderam espaço para os pedalinhos.
Pontes feitas com recursos artificiais imitam a natureza: técnica haussmmaniana. Acervo familiar: Helmuth Wagner
Momentos marcantes do Passeio Público
2 de maio de 1886 - O Passeio Público é inaugurado pelo presidente da província, Alfredo D'Escragnolle Taunay, mas ainda existem partes do parque que precisam ser finalizadas.
3 de agosto de 1886 - O Passeio é finalizado pelo sucessor da província, Joaquim d'Almeida Faria.
1888 - Curitiba ganha o primeiro carrossel da cidade. Nesse mesmo ano ocorre a desapropriação da Chácara de Nhá Laura, onde hoje é o Colégio Estadual do Paraná.
1920 - É inaugurado um novo Passeio Público, concebido pelo arquiteto Joseph Antoine Bouvard, com jardins de padrões 'hausmmannianos' e com o portão semelhante ao do Cemitério de Cães de Paris.
1932 - O Passeio recebe os primeiros animais. Depois chegou a ficar pequeno de tanto bicho: recebeu onças, tigres, jacarés, girafas, zebras, posteriormente transferidos para o zoológico.
1965 a 1966 - O Passeio sofreu intervenção de caráter significativo: a implantação do plano para o Passeio Público elaborado pelo Ippuc. A partir daí veículos não circularam mais pelo parque.
1973 - Até esse ano o Passeio era o único parque público de Curitiba. Depois começaram a aparecer outros. Ali a população ia para passear a pé ou de barco e admirar a natureza.
1974 - Ocorre o tombamento estadual do portão concebido por Bouvard.
1982 - Os animais começam a ser transferidos para o Zoológico de Curitiba, recém criado. Foi considerado o maior parque urbano do país.
1984 - Todo o Passeio Público é tombado pelo Estado pela importância de sua natureza e arquitetura.
Portão principal que lembra o portão do Cemitério de Cães de Paris. Acervo familiar: Helmuth Wagner
Intruso
Em uma das entradas do Passeio Público está o busto de Francisco Fasce Fontana. Lá, lê-se que o ervateiro teria doado o terreno para a construção do parque. Mas a verdade é que os terrenos foram adquiridos pela prefeitura, sem doações. Detalhe: o busto de Fontana foi retirado de seu túmulo.
Clima de inverno no Passeio Público. Acervo familiar: Helmuth Wagner
Pedestres entravam no Passeio pelos portões laterais, enquanto o principal era via de acesso dos carros. Acervo familiar: Helmuth Wagner
O Passeio Público na época da sua inauguração, ainda com cerca em madeira. Depois passou por reformas e recebeu as cercas atuais. Acervo da Casa da Memória/FCC
O parque ainda novo: só depois ele ganhou diversos equipamentos de diversão. Acervo da Casa da Memória/FCC
Passeata da festa da primavera. O autor da festa, Dario Velloso, no local em que foi realizada a festividade Olympica em honra ao poeta Emiliano Pernetta em 1911. Acervo da Casa da Memória/FCC
Melhorias no Passeio Público com a construção de uma ponte de concreto sobre o Rio Belém. Ao fundo o antigo viveiro dos macacos. Acervo da Casa da Memória/FCC
Viveiro de pássaros (antiga gaiola dos macacos), no interior do Passeio Público. Acervo da Casa da Memória/FCC
Vista do pavilhão de retretas (coreto) do Passeio Público, hoje transformado em aquário. Acervo da Casa da Memória/FCC
Pessoas posando em uma ponte sobre um lago no Passeio Público. Foto de 1909. Acervo da Casa da Memória/FCC
Coreto do Passeio Público. Acervo da Casa da Memória/FCC






Créditos
http://www.gazetadopovo.com.br/vidaecidadania/ocupe-passeio-publico/conteudo.phtml?tl=1&id=1349819&tit=O-parque-da-magia

3 comentários:

  1. Legal, é bom rever a história de um local que, a gente brinca mas é verdade, quem não conhece o Passeio Público não conhece Curitiba. Elcio

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigado pela participação Elcio, trabalho para divulgar, criticar, apoiar, defender nossa cidade...

      Excluir